http://josebueno.zip.net CRONICAS DO LIMA
Disse, certa ocasião, que acordava, em meus tempos de menino, com os apitos das fábricas. Nos anos 1945/1950, predominavam em Santo André, as tecelagens, marcenarias, algumas metalúrgicas, quase todas de origem familiar. A mais famosa, entre as tecelagens, sem dúvida foi a Ipiranguinha, situada na Praça Adhemar de Barros, e que deu o nome à região onde estava fixada. Seu apito era inconfundível. Por razões sentimentais, tinha eu muita afeição por ela, pois minha mãe Adelina e um seu irmão, o Vicente, mais conhecido por Bitcheca, lá trabalharam. Quase vizinha, havia a tecelagem da Família Didone, situada onde hoje está a cooperativa da Rhodia, a Coop. Os Didone sempre foram muito ligados à minha família, por laços de amizade. Defronte à Vila Sapo, do campo do Palestra, atual Parque Antonio Flaquer, havia a Conac-Companhia Nacional de Cabos, fabricante de cabos, mais tarde Pirelli, que me impressionava pelo sua imponente chaminé. E seu apito.
Disse, certa ocasião, que acordava, em meus tempos de menino, com os apitos das fábricas. Nos anos 1945/1950, predominavam em Santo André, as tecelagens, marcenarias, algumas metalúrgicas, quase todas de origem familiar. A mais famosa, entre as tecelagens, sem dúvida foi a Ipiranguinha, situada na Praça Adhemar de Barros, e que deu o nome à região onde estava fixada. Seu apito era inconfundível. Por razões sentimentais, tinha eu muita afeição por ela, pois minha mãe Adelina e um seu irmão, o Vicente, mais conhecido por Bitcheca, lá trabalharam. Quase vizinha, havia a tecelagem da Família Didone, situada onde hoje está a cooperativa da Rhodia, a Coop. Os Didone sempre foram muito ligados à minha família, por laços de amizade. Defronte à Vila Sapo, do campo do Palestra, atual Parque Antonio Flaquer, havia a Conac-Companhia Nacional de Cabos, fabricante de cabos, mais tarde Pirelli, que me impressionava pelo sua imponente chaminé. E seu apito.
Mais para perto da Matriz, na rua Santo André ficava
indústria do Eugênio Rocco, também tecelagem, e descendo a rua Coronel Ortiz,
tínhamos a marcenaria dos Irmãos Balista, cujo produto principal eram cadeiras.
Nos fins dos anos 40, estabeleceu-se em Santo André a fábrica de óleo Compol,
na rua Alberto Benedetti, onde agora é o “campus” da Universidade Anhanguera.
Na rua Jorge Moreira, via sem saída, lá no seu fim, a tecelagem da Família
Rocco, sendo um deles, o Euclydes, pai de meu amigo Euclydes Jr., o Tidinho.
Essas indústrias citadas faziam parte de meu dia a dia, por
ficarem mais perto de minha residência.
Por volta da primeira metade do século passado, começaram a
se instalar na cidade, grandes empresas estrangeiras. Houve um grande “boom” na
geração de empregos. A mais famosa, certamente, foi a indústria química Rhodia,
de origem francesa. Famosa nacionalmente, pois, além dos produtos químicos,
farmacêuticos e, também, de tecidos, produzia ela o lança-perfume Rhodouro, que
fez a alegria dos foliões, nos carnavais da época. Grande parte da população
andreense foi ali trabalhar. Ao lado da Rhodia, funcionou a Otis, uma das
líderes na fabricação e montagem de elevadores. Na mesma esteira, vieram a se
instalar a Firestone, que o povo, vulgarmente, pronunciava sem observar o
idioma americano, e a Pirelli, italiana, ambas fabricantes de pneus. Muito
famosa, também, a Kowaric fabricante de casimira, reconhecida pela sua
qualidade, em todo território brasileiro. Do mesmo produto, o Lanifício Inglês,
situado na Rua Coronel Fernando Prestes, esquina com a Rua Venezuela.
Na Avenida Queirós dos Santos havia uma fábrica de móvel bem
conhecida, a Streiff, que fabricava mesas, cadeiras e outros objetos do ramo.
Um pouco para frente, em direção ao bairro, antes da Firestone, estava a
carpintaria e madeireira dos Sortino, e pouco depois, o Moinho Fanucchi. Mais
adiante, já na Avenida Santos Dumont, a tecelagem Fambra.
Na Avenida Industrial tivemos a empresa de refrigeração da
Família Platzer, o Jutifício Maria Luiza, dos Trevisiolli, a General Electric
(GE), as indústrias de adubos (IAP e outras), que vieram empestear poluindo o
saudável ar de Santo André. Nesse aspecto, a Rhodia também contribuiu, ao jogar
detritos no Rio Tamanduateí, a ponto de aqueles mesmo estando afastados, ao
sentirem o cheiro, exclamavam:
-Nooossa, hoje a Rhodia tá exagerando!
Ainda na Avenida Industrial, Fichet e a Nordon, duas
importantes indústrias do ramo metalúrgico.
Na verdade, A Cidade Que Dormiu Três Séculos, título do
livro, no dizer do seu autor, o historiador andreense Octaviano Gaiarsa, Santo
André iniciou seu crescimento a partir dos anos 50, para se tornar uma das
principais comunas do Estado de São Paulo.
Nos últimos trinta anos, após o movimento sindicalista
implantado na região, principalmente pela classe metalúrgica, nossa cidade
passou por grandes transformações, notabilizando-se, hoje, como um grande
centro prestador de serviços.
ANTIGUIDADES
Volta e meia sou lembrado por leitores, parentes e amigos,
os antigos comércios existentes em Santo André. De fato, são aspectos que
marcaram pontos em nossa existência, trazendo-nos na lembrança aqueles
estabelecimentos que completavam nossas necessidades.
Lembro-me, na infância, de minha mãe Adelina me pedindo:
- Zezinho, vai até a padaria buscar o pão! Às vezes ia ou na
Paulicéia, situada na Avenida João Ramalho, ou na São Paulo, da Joaquim Távora.
Também, pegava, de vez em quando, um pãozinho diferente, na padaria do
Gardezani, que ficava um pouco mais longe, na esquina da rua Dom Duarte
Leopoldo e Silva, com a Alfredo Flaquer. Tinha ele o formato de um pequeno
foguete, e chamávamos de “corninho”.
Mantimentos, nós nos abastecíamos na venda do Carmine
Rossini, até o dia em que abrimos a Mercearia Dom Bosco, de tão boas
lembranças. Um local que nunca me esqueço foi o Bazar do Juquita, pegado ao Bar
da Saudade. Ali minha mãe comprava as lãs para o tricô, linhas, botões, e
aquele material para as atividades peculiares da dona de casa.
Já moço, deixando a Vila Assunção, e começando a frequentar
o centro da cidade, meu mundo teve um crescimento espantoso, apesar de não se
comparar com o de hoje. Todavia, passando a viver nos arredores das ruas
Oliveira Lima, Senador Flaquer, comecei a tomar conhecimento de dezenas e
dezenas de estabelecimentos, dos mais diversos tipos. Na Senador, a tão famosa
Sedanossa, loja de tecidos do Sadala Melhen, que existiu até recentemente. A
Farmácia Glória, do Quinto Tombolato, o Restaurante Balderi, o armazém do
Bartolli, a Farmácia Martins, o Bar do Jorge Turco. Não posso deixar de falar
dos parques de diversões e dos circos (o do Liendo, o mais famoso), atividades
ocasionais, instaladas em terrenos baldios da citada via pública. Sem esquecer
a Casa Veronesi, antes somente sapataria, agora roupas masculinas em geral,
comandada pelo Irineu e filho (deve ser o comércio mais antigo da cidade, junto
com a selaria do Sbrighi, na Fernando Prestes). Pegado, as alfaiatarias do
Somera e do Américo Pinto Serra. O Externato Santana, da Dona Cotita, onde
frequentei junto com os irmãos Zeca e Paulinho Serra.
Na Oliveira Lima, então, um sem número de estabelecimentos.
Vou citar alguns deles, pois, não haveria tanto espaço para todos. Começo pela
Joalheria Zucchi, do grande amigo Glauco, onde, em 1961, após haver ingressado
na Prefeitura de São Bernardo do Campo, recebendo o primeiro pagamento, comprei
meu primeiro relógio, um Enicar, recomendado pelo proprietário. Ao lado dela, a
Sapataria Cassetari, e na frente, a revendedora Ford dos Pezzollo, onde, mais
tarde, se instalou a Lojas Americanas. Lembro-me da fábrica de guarda-chuvas
dos Isoppo, da loja O Queimador, do amigo Mário Bim. Do depósito da Antarctica
(ou da Brahma?), do Milton Magini (Alemão), que entregava gelo nas residências,
abastecendo as antigas geladeiras domésticas. O caminhão era dirigido pelo
Xaxá, um negro que cantava em italiano. Defronte, a Sapataria Gaucha, dos
irmãos Sérgio e Osmar, ao lado da Ótica Wilson, do Tavares, tendo na parte de
cima do prédio, o consultório do oculista famoso na cidade, Dr. Delmanto.
Mais abaixo, o Bazar Wilma, assim chamado em homenagem à
filha do proprietário, Arnaldo Carollo, e que veio a ser minha cunhada, mulher
de meu irmão Sebastião. Nesse ponto, onde a Oliveira Lima faz cruzamento com a
Monte Casseros de um lado, e Albuquerque Lins de outro, forma-se um pequeno
largo, cujo espaço ficou conhecido por Quitandinha, devido ao bar de mesmo nome
ali situado. Reduto de políticos, da Turma do Panelinha e dos “fofoqueiros”. A
Boca Maldita da cidade. Ficava embaixo do Clube de Xadrez, ao lado do Cartório
de Registro Civil do Paiva, sobrenome do tabelião, e da Coletoria Estadual. Em
frente, na outra calçada da Oliveira Lima, ficava o Bar Esporte, vizinho do
Bazar Bellettato, e da sapataria do Celso Sampaio. Nesse mesmo lado, ficava a
Joalheria do Davi Lowy. Descendo havia o Prédio Martinelli, onde estava
instalada a Câmara Municipal. Defronte a este, a Sorveteria Européia, que teve
grande sucesso, vizinha do prédio sede da AUSA, Associação dos Universitários
de Santo André.
Daí para baixo, poucos estabelecimentos merecem citação. A
Padaria Matinal, reduto do Ocara Clube, embaixo da sede do Clube Atlético
Rhodia, tendo à sua frente a Farmácia do Zezinho Brancaglione, outro famoso
farmacêutico.
Atravessando a rua General Glicério, víamos o prédio da A
Exposição, a loja que vestiu a maioria da população masculina de Santo André.
Lá no fim, defronte à via férrea, numa esquina o famoso Cine
Tangará, onde tantos e tantos namorados frequentaram, na saudosa primeira
sessão noturna dos domingos. Na outra, a velha sede da Prefeitura de Santo
André.
Acredito que, aqueles que tiverem a oportunidade de ler esta
crônica, de um lado, com toda certeza, vão dizer, puxa, ele se esqueceu da loja
tal, daquilo, disto. Dou a mão à palmatória! Difícil me lembrar de tudo!
De outro, terão, duvido que não, o prazer de relembrar
certas passagens de que foram testemunhas, protagonistas ou de que ficaram
sabendo por ouvir dizer, acontecidas nesses estabelecimentos.
Saudosas recordações!
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