terça-feira, 10 de setembro de 2013

BOM PARA RECORDAR E FICAR NA MEMÓRIA

http://josebueno.zip.net   CRONICAS DO LIMA



Disse, certa ocasião, que acordava, em meus tempos de menino, com os apitos das fábricas. Nos anos 1945/1950, predominavam em Santo André, as tecelagens, marcenarias, algumas metalúrgicas, quase todas de origem familiar. A mais famosa, entre as tecelagens, sem dúvida foi a Ipiranguinha, situada na Praça Adhemar de Barros, e que deu o nome à região onde estava fixada. Seu apito era inconfundível. Por razões sentimentais, tinha eu muita afeição por ela, pois minha mãe Adelina e um seu irmão, o Vicente, mais conhecido por Bitcheca, lá trabalharam. Quase vizinha, havia a tecelagem da Família Didone, situada onde hoje está a cooperativa da Rhodia, a Coop. Os Didone sempre foram muito ligados à minha família, por laços de amizade. Defronte à Vila Sapo, do campo do Palestra, atual Parque Antonio Flaquer, havia a Conac-Companhia Nacional de Cabos, fabricante de cabos, mais tarde Pirelli, que me impressionava pelo sua imponente chaminé. E seu apito.
Mais para perto da Matriz, na rua Santo André ficava indústria do Eugênio Rocco, também tecelagem, e descendo a rua Coronel Ortiz, tínhamos a marcenaria dos Irmãos Balista, cujo produto principal eram cadeiras. Nos fins dos anos 40, estabeleceu-se em Santo André a fábrica de óleo Compol, na rua Alberto Benedetti, onde agora é o “campus” da Universidade Anhanguera. Na rua Jorge Moreira, via sem saída, lá no seu fim, a tecelagem da Família Rocco, sendo um deles, o Euclydes, pai de meu amigo Euclydes Jr., o Tidinho.
Essas indústrias citadas faziam parte de meu dia a dia, por ficarem mais perto de minha residência.
Por volta da primeira metade do século passado, começaram a se instalar na cidade, grandes empresas estrangeiras. Houve um grande “boom” na geração de empregos. A mais famosa, certamente, foi a indústria química Rhodia, de origem francesa. Famosa nacionalmente, pois, além dos produtos químicos, farmacêuticos e, também, de tecidos, produzia ela o lança-perfume Rhodouro, que fez a alegria dos foliões, nos carnavais da época. Grande parte da população andreense foi ali trabalhar. Ao lado da Rhodia, funcionou a Otis, uma das líderes na fabricação e montagem de elevadores. Na mesma esteira, vieram a se instalar a Firestone, que o povo, vulgarmente, pronunciava sem observar o idioma americano, e a Pirelli, italiana, ambas fabricantes de pneus. Muito famosa, também, a Kowaric fabricante de casimira, reconhecida pela sua qualidade, em todo território brasileiro. Do mesmo produto, o Lanifício Inglês, situado na Rua Coronel Fernando Prestes, esquina com a Rua Venezuela.
Na Avenida Queirós dos Santos havia uma fábrica de móvel bem conhecida, a Streiff, que fabricava mesas, cadeiras e outros objetos do ramo. Um pouco para frente, em direção ao bairro, antes da Firestone, estava a carpintaria e madeireira dos Sortino, e pouco depois, o Moinho Fanucchi. Mais adiante, já na Avenida Santos Dumont, a tecelagem Fambra.
Na Avenida Industrial tivemos a empresa de refrigeração da Família Platzer, o Jutifício Maria Luiza, dos Trevisiolli, a General Electric (GE), as indústrias de adubos (IAP e outras), que vieram empestear poluindo o saudável ar de Santo André. Nesse aspecto, a Rhodia também contribuiu, ao jogar detritos no Rio Tamanduateí, a ponto de aqueles mesmo estando afastados, ao sentirem o cheiro, exclamavam:
-Nooossa, hoje a Rhodia tá exagerando!
Ainda na Avenida Industrial,  Fichet e a Nordon, duas importantes indústrias do ramo metalúrgico.
Na verdade, A Cidade Que Dormiu Três Séculos, título do livro, no dizer do seu autor, o historiador andreense Octaviano Gaiarsa, Santo André iniciou seu crescimento a partir dos anos 50, para se tornar uma das principais comunas do Estado de São Paulo.
Nos últimos trinta anos, após o movimento sindicalista implantado na região, principalmente pela classe metalúrgica, nossa cidade passou por grandes transformações, notabilizando-se, hoje, como um grande centro prestador de serviços.
ANTIGUIDADES
   

Volta e meia sou lembrado por leitores, parentes e amigos, os antigos comércios existentes em Santo André. De fato, são aspectos que marcaram pontos em nossa existência, trazendo-nos na lembrança aqueles estabelecimentos que completavam nossas necessidades.
Lembro-me, na infância, de minha mãe Adelina me pedindo:
- Zezinho, vai até a padaria buscar o pão! Às vezes ia ou na Paulicéia, situada na Avenida João Ramalho, ou na São Paulo, da Joaquim Távora. Também, pegava, de vez em quando, um pãozinho diferente, na padaria do Gardezani, que ficava um pouco mais longe, na esquina da rua Dom Duarte Leopoldo e Silva, com a Alfredo Flaquer. Tinha ele o formato de um pequeno foguete, e chamávamos de “corninho”.
Mantimentos, nós nos abastecíamos na venda do Carmine Rossini, até o dia em que abrimos a Mercearia Dom Bosco, de tão boas lembranças. Um local que nunca me esqueço foi o Bazar do Juquita, pegado ao Bar da Saudade. Ali minha mãe comprava as lãs para o tricô, linhas, botões, e aquele material para as atividades peculiares da dona de casa.
Já moço, deixando a Vila Assunção, e começando a frequentar o centro da cidade, meu mundo teve um crescimento espantoso, apesar de não se comparar com o de hoje. Todavia, passando a viver nos arredores das ruas Oliveira Lima, Senador Flaquer, comecei a tomar conhecimento de dezenas e dezenas de estabelecimentos, dos mais diversos tipos. Na Senador, a tão famosa Sedanossa, loja de tecidos do Sadala Melhen, que existiu até recentemente. A Farmácia Glória, do Quinto Tombolato, o Restaurante Balderi, o armazém do Bartolli, a Farmácia Martins, o Bar do Jorge Turco. Não posso deixar de falar dos parques de diversões e dos circos (o do Liendo, o mais famoso), atividades ocasionais, instaladas em terrenos baldios da citada via pública. Sem esquecer a Casa Veronesi, antes somente sapataria, agora roupas masculinas em geral, comandada pelo Irineu e filho (deve ser o comércio mais antigo da cidade, junto com a selaria do Sbrighi, na Fernando Prestes). Pegado, as alfaiatarias do Somera e do Américo Pinto Serra. O Externato Santana, da Dona Cotita, onde frequentei junto com os irmãos Zeca e Paulinho Serra.
Na Oliveira Lima, então, um sem número de estabelecimentos. Vou citar alguns deles, pois, não haveria tanto espaço para todos. Começo pela Joalheria Zucchi, do grande amigo Glauco, onde, em 1961, após haver ingressado na Prefeitura de São Bernardo do Campo, recebendo o primeiro pagamento, comprei meu primeiro relógio, um Enicar, recomendado pelo proprietário. Ao lado dela, a Sapataria Cassetari, e na frente, a revendedora Ford dos Pezzollo, onde, mais tarde, se instalou a Lojas Americanas. Lembro-me da fábrica de guarda-chuvas dos Isoppo, da loja O Queimador, do amigo Mário Bim. Do depósito da Antarctica (ou da Brahma?), do Milton Magini (Alemão), que entregava gelo nas residências, abastecendo as antigas geladeiras domésticas. O caminhão era dirigido pelo Xaxá, um negro que cantava em italiano. Defronte, a Sapataria Gaucha, dos irmãos Sérgio e Osmar, ao lado da Ótica Wilson, do Tavares, tendo na parte de cima do prédio, o consultório do oculista famoso na cidade, Dr. Delmanto.
Mais abaixo, o Bazar Wilma, assim chamado em homenagem à filha do proprietário, Arnaldo Carollo, e que veio a ser minha cunhada, mulher de meu irmão Sebastião. Nesse ponto, onde a Oliveira Lima faz cruzamento com a Monte Casseros de um lado, e Albuquerque Lins de outro, forma-se um pequeno largo, cujo espaço ficou conhecido por Quitandinha, devido ao bar de mesmo nome ali situado. Reduto de políticos, da Turma do Panelinha e dos “fofoqueiros”. A Boca Maldita da cidade. Ficava embaixo do Clube de Xadrez, ao lado do Cartório de Registro Civil do Paiva, sobrenome do tabelião, e da Coletoria Estadual. Em frente, na outra calçada da Oliveira Lima, ficava o Bar Esporte, vizinho do Bazar Bellettato, e da sapataria do Celso Sampaio. Nesse mesmo lado, ficava a Joalheria do Davi Lowy. Descendo havia o Prédio Martinelli, onde estava instalada a Câmara Municipal. Defronte a este, a Sorveteria Européia, que teve grande sucesso, vizinha do prédio sede da AUSA, Associação dos Universitários de Santo André.
Daí para baixo, poucos estabelecimentos merecem citação. A Padaria Matinal, reduto do Ocara Clube, embaixo da sede do Clube Atlético Rhodia, tendo à sua frente a Farmácia do Zezinho Brancaglione, outro famoso farmacêutico.
Atravessando a rua General Glicério, víamos o prédio da A Exposição, a loja que vestiu a maioria da população masculina de Santo André.
Lá no fim, defronte à via férrea, numa esquina o famoso Cine Tangará, onde tantos e tantos namorados frequentaram, na saudosa primeira sessão noturna dos domingos. Na outra, a velha sede da Prefeitura de Santo André.
Acredito que, aqueles que tiverem a oportunidade de ler esta crônica, de um lado, com toda certeza, vão dizer, puxa, ele se esqueceu da loja tal, daquilo, disto. Dou a mão à palmatória! Difícil me lembrar de tudo!
De outro, terão, duvido que não, o prazer de relembrar certas passagens de que foram testemunhas, protagonistas ou de que ficaram sabendo por ouvir dizer, acontecidas nesses estabelecimentos.

Saudosas recordações!

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